Pesquisadores brasileiros publicam artigos sobre recentes descobertas de fontes de energia alternativa no oceano

Demandas crescentes de energia e preocupações ambientais têm aumentado cada vez mais o interesse em fontes de energia renováveis e combustíveis fósseis com menores emissões de gases de efeito estufa. Recentemente, pesquisadores brasileiros do Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) publicaram artigos científicos na revista Geosciences, da Suíça, que relatam parte da pesquisa que se tem feito sobre a descoberta de fontes de energia alternativa no oceano. Embora ainda não exista produção em escala comercial, os hidratos de metano podem acarretar em uma nova revolução na indústria de gás natural como um futuro recurso energético de gás não convencional. Este recurso é encontrado em grandes volumes e estão distribuídos em diferentes locais ao redor do planeta. Os hidratos de gás natural são estruturas cristalinas, semelhantes a gelo, formadas a partir de moléculas de água e de gás natural sob condições adequadas de temperatura e pressão (UNEP, 2014a). Nos hidratos, o metano encontra-se em uma forma altamente concentrada. Quando trazido à superfície, um metro cúbico de hidrato de metano pode liberar mais de 160 metros cúbicos de metano (RUPPEL, 2011).

Pesquisadores brasileiros estiveram em um projeto de pesquisa a bordo de um navio em alto mar por 40 dias para estudar as ocorrências de hidratos de gás ao norte do Brasil na Foz do Amazonas que vai da fronteira da Guiana Francesa, na cidade de Oiapoque, a leste de Belém (PA). Para chegar na área mais distante de trabalho, são quatro dias de navegação.
Para esta campanha oceanográfica, deu-se o nome de “Projeto Tucuxi” a qual tinha como objetivo amostrar e caracterizar as possíveis áreas contendo hidratos de gás na Foz do Amazonas. O nome foi escolhido em referência ao boto que vive tanto em água doce quanto salgada na região do Amazonas. A pesquisa foca em quatro objetivos: combustível para aproveitamento energético, relação com a possível existência de campos de petróleo (hidrato de gás que vaza do fundo do mar e chega à superfície pode ser um indício), mudanças climáticas e possibilidade de relação dos hidratos com deslizamentos de terra submarinos.

Parte do resultado da pesquisa está descrito em dois artigos científicos. Um deles com o título “Gas Seeps at the Edge of the Gas Hydrate Stability Zone on Brazil’s Continental Margin” e o outro artigo entitulado “Molecular and Isotopic Composition of Hydrate-Bound, Dissolved and Free Gases in the Amazon Deep-Sea Fan and Slope Sediments, Brazil”
Os artigos abordam as recentes descobertas de hidratos de gás no oceano, mais especificamente, na margem continental brasileira. Dentre os assuntos abordados, destacam-se o estudo da origem do gás e a preocupação ambiental em relação aos diferentes cenários de mudança climáticas, que poderão influenciar na dinâmica das reservas de hidratos nos oceanos.

O projeto de pesquisa foi realizado em conjunto com a companhia de aquisição de dados de óleo e gás SeaSeep para estudar os hidratos na região.
Segundo o Dr. Luiz Frederico Rodrigues, o estudo da origem dos gases é muito importante no meio científico, pois além de interesse ambiental, auxilia na compreensão da exploração de potenciais fontes energéticas alternativas no futuro. “Uma dessas fontes é o hidrato de gás, estruturas sólidas (gelo) que contêm uma elevada quantidade de gás armazenada, que poderá ser usado como fonte energética”, aponta. No entanto, além do caráter de fonte de energia alternativa para o futuro, é muito importante que se tenha uma discussão ambiental envolvida. “Quando mencionamos o aquecimento global nas recentes pesquisas, devemos ter em mente que a temperatura das águas do oceano também está aumentando. Se continuar assim, pode ocorrer a desestabilização de hidrato de gás nas margens continentais em todo o mundo”, enfatiza Luiz Frederico Rodrigues, pesquisador do IPR/PUCRS.

Essas reservas contêm um elevando reservatório de gás, principalmente, metano, e a liberação de uma fração deste gás nos oceanos na atmosfera contribuiria com o aumento dos gases de efeito estufa que, por sua vez, aumentaria a temperatura do planeta.
Outros pesquisadores também colaboraram no artigo científico os quais fazem parte da Universidade Federal do Rio Grande Sul, Petrobras, Universidade Federal Fluminense, Linnaeus University e do laboratório francês Géoazur da França. O grupo de pesquisa do IPR/PUCRS é o único do Brasil capaz de desenvolver esse tipo de pesquisa que tem como objetivo usar o conhecimento e esforço para entregar à sociedade um produto relacionado às questões energética e climática. Quem está mais avançado no mundo nesse processo é o Japão, com testes de produção no mar. No entanto, há uma série de desafios tecnológicos que precisam ser resolvidos antes de entrar na matriz energética de forma comercial.